segunda-feira, 10 de março de 2008

Os Efeitos do Consumo Televisivo na Percepção Social

Aluno: João Soberano
N.º: 370306046
Texto Analisado: "The Effects of Television Consumption on Social Perceptions: The Use of Priming Procedures to Investigate Psychological Processes

Segundo estudos efectuados, uma família americana assiste em média cerca de 7 horas de televisão por dia, fazendo assim com que o ‘consumo televisivo’ assuma hoje um papel fulcral nos Estados Unidos da América. A questão que daí nasce é simples, que tipo de efeito secundário tem esse produto no consumidor?
Os temas caem, na grande generalidade dos casos, para o crime, violência e propaganda sexual e os potenciais efeitos que estes têm nas atitudes, crenças e comportamento da população. Prestando maior atenção nos processos que determinam os efeitos do consumo televisivo, foi proposto um novo estudo que não se prende-se somente na interpretação desses efeitos, mas também na sua análise e compreensão.

Pesquisa Sobre os Efeitos da Televisão na Audiência

Um grande numero de estudos feitos no passado defendem a ideia de que a televisão tem um efeito directo nas atitudes, crenças e percepção do espectador. Esta teoria assenta na ideia de que a televisão apresenta uma sistemática distorção da realidade. Assim, quanto mais as pessoas assistirem à televisão (expondo-se a esta distorção de realidade), mais a sua noção de mundo real se difundirá numa ideia de mundo televisivo, influenciando claramente a sua percepção do real. Este pode trazer ilusões (como maior fé na medicina, ou no inevitável divórcio), que muitas das vezes não se revelam minimamente positivas. Se uma pessoa tem certas crenças acerca da realidade social, poderá sentir-se atraída para programas televisivos que confirmem esta mesma teoria. Há assim uma evidente lacuna entre a consciência de que estas questões existem, e o desenvolvimento de um processo psicológico que avalie o cultivo destes mesmos efeitos no espectador. Foram assim elaborados dois estudos com vista a obtenção destes mesmos resultados.

Processamento de juízos e cultivação de efeitos – Primeiro Estudo

Um estudo realizado (Shrum 1995) providenciou um modelo psicológico para entender como o consumo televisivo poderia influenciar a construção de juízos sociais. Este defende que, assistir televisão pode aumentar o acesso a coisas que estão muitas vezes presentes em programas televisivos (como crime e violência). O acesso pode, evidentemente, ser aumentado pela frequência com que estes são vistos, e assim transmitidos e gravados na memória do espectador, criando uma nítida noção de cultivo desse conhecimento. Shrum concluiu ainda que os espectadores mais assíduos não só se entregaram à ideia de que o crime e prostituição prevalecem (um efeito do cultivo) mas também chegaram a estes resultados mais rapidamente (produto da acessibilidade).
Este primeiro estudo têm na mira o papel da fonte, ignorando o efeito de cultivo. Assim, a tarefa foi dividida de três formas. De forma a estipular a fonte, foi pedido aos participantes que fornecessem informação sobre os seus hábitos televisivos antes de partirem para um processo de julgamento. Em seguida, para obter resultados quanto á sua relação com a fonte e os juízos de valor, os participantes foram avisados da possível influência da televisão nos seus resultados antes de estes serem fornecidos. Finalmente, foi-lhes pedido para fazerem julgamentos sem chamar atenção para os seus hábitos televisivos nem seus possíveis efeitos. Chamar a atenção aos participantes é suficiente para estimular a sua mente de forma a ignorar informação televisiva, e assim fornecer informação que não se encontra sob a sua influência.

Método: Setenta e um participantes foram ao acaso escolhidos para participar em uma destas três condições mencionadas. Na última os participantes foram inicialmente levados a completar um questionário sobre as suas crenças na prevalência de crime e ocupação particulares. Em seguida, preencheram um questionário no qual era estipulado a frequência com que assistiam televisão. Na primeira, os participantes primeiro estipularam a frequência com que viam televisão, e só depois forneceram as suas crenças na prevalência de crime e ocupação particular. Na segunda passou-se a mesma coisa, com o acréscimo da seguinte instrução: “Muitas destas perguntas são sobre coisas que se passam na televisão. Geralmente as pessoas tem a confundir isso com a vida real”.
Resultados:
De forma a poder determinar efeitos do consumo televisivo e das crenças na prevalência do crime e ocupação, foram realizadas várias regressões, tanto no campo da exposição televisiva como na própria condição do participante (idade, sexo, salário, etc.). Os resultados apontam para a ideia já esperada de “cultivo de percepção”, onde a ultima tarefa pedida (No priming) atingiu os valores mais elevados de exposição televisiva, enquanto que a primeira (Source Priming) atingiu os valores mais baixos.
Análise suplementar:
Nestas análises foi tido como variável o total de exposição televisiva. Contudo, se as pessoas forem selectivas quanto aos seus hábitos televisivos, a quantidade de exposição, mediante a categoria do programa visto pode ser uma variante a ter em conta nestes resultados.
Discussão:
De uma forma geral, os resultados deste estudo implicam a noção de cultivo, que defende que exposição televisiva é um factor que altera de facto a percepção do espectador no mundo real. Contudo, apenas o facto de se ter alertado o participante da possível influência da televisão na sua resposta foi suficiente para os resultados sofrerem alterações.
Contudo, surge um novo problema. Se a quantidade de ajustamentos que a pessoa faz, contrapondo com a magnitude da sua estimativa, deverá depender na forma como a pessoa se considera um espectador casual ou constante, independentemente da quantidade de televisão que na verdade eles assistem.

Manipulação da percepção do participante quanto ao seu “nível de exposição” – Segundo estudo

Nesta segunda experiência, foram alterados independentemente as condições fornecidas no primeiro estudo, e a própria escala que os participantes usaram para estimar a sua frequência de exposição televisiva. Quando os participantes não são expostos à escala de frequência, antes de dar as suas opiniões, a relação entre o uso da televisão e a realidade social será maior no último caso (no – priming) segundo os resultados do primeiro estudo. No entanto, supondo que é pedido aos participantes para declarar o seu comportamento como espectador televisivo antes de fazer estas estimativas, e estes tentem compensar o resultado de realidade social. Neste caso, deverão ajustar ainda mais, e fazer estimativas baixas quando lhes for dado a escala de frequências baixas (declarando-se assim um espectador constante) ou o oposto se lhes é dado uma escala de frequências altas.
Método:
Desta vez foram usadas 4 condições experimentadas, atribuídas ao acaso pelos participantes. Duas condições foram semelhantes às do primeiro estudo (No-priming e relation-priming / Segunda e terceira), nas restantes os participantes foram sujeitos a um inquérito acerca do seu hábito televisivo, sendo-lhes fornecidas duas escalas (uma alta e uma baixa, tal como mencionado anteriormente).
Resultados:
A quantidade de televisão vista pelos participantes foram significativamente elevadas quando lhes foi dada uma escala de frequência alta (tal como se verificou em 1985 por Schwarz), com um acréscimo de eles próprios terem considerado o seu nível de observação televisiva como sendo menos frequente na primeira condição do que na segunda.
Hipótese:
Se os participantes tentarem ajustar o seu nível de exposição, os resultados serão inferiores quando sendo feitos com uma escala de frequência inferior. Este não foi o caso. Os participantes estimaram que os níveis de crime e ocupação eram inferiores quando a relação entre observação e realidade lhes foi proposta. Estas análises foram efectuadas sob as mesmas condições que no primeiro estudo, e não foram fruto de ajustes.
Discussão:
Os resultados deste estudo confirmam as conclusões tiradas na primeira experiência. Chamar a atenção aos participantes da relação existente entre ver televisão, e a sua percepção na própria realidade elimina o efeito deixado pela percepção das próprias pessoas.

Discussão Global

Foi argumentado no estudo 1 e 2 que o efeito de cultivo pode ser explicado geralmente nos termos de influência televisiva e na própria consciência das pessoas. Sugerem ainda que a exposição à programação televisiva tem uma influência significante na percepção individual de cada sujeito, especialmente no campo da ocupação e do crime, contudo este pode não ser o único factor, outras variáveis podem estar no lugar deste desenvolvimento.
Ambos os estudos serviram ainda para providenciar informação sobre processos psicológicos que sublinham essa noção de cultivo. Parece assim óbvio que, as distorções proporcionadas pela televisão, podem de facto influenciar juízos de valor sociais, e esta influência deverá ser maior para aqueles que vêm mais televisão, e portanto absorvem mais o que ela transmite (tendo aqui em conta que o simples “absorver” implica um cultivo dessa mesma mensagem, e um nítido “colorir” da percepção de cada um).

FlowChart:




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